Uma pesquisa divulgada esta semana pelo Datafolha mostra que a maioria dos brasileiros com idade acima de 16 anos é a favor da proibição do uso do celular nas escolas. São 62% dos brasileiros que concordam com a medida preocupados com a distração causada pelo uso dos aparelhos e problemas causados na aprendizagem, em especial das crianças. A neuropsicóloga Rosiane Bernardo é enfática quanto aos prejuízos cognitivos a longo prazo causados pelo excesso de uso de telas em crianças e adolescentes que estão com o cérebro em formação.
O percentual de apoio ao banimento dos celulares nas escolas cresce para 65% na parcela que tem filhos de até 12 ou de até 18 anos. Os resultados refletem a preocupação dos pais com os efeitos negativos, como vício, ansiedade e desempenho escolar prejudicado. A pesquisa também aponta que 76% da população considera que o celular traz mais prejuízos do que benefícios ao aprendizado. Entre os pais, esse número também sobe para 78%.
Para a neuropsicóloga Rosiane Bernardo os pais estão corretos quanto a essa preocupação com o uso excessivo de telas, principalmente pelas questões cognitivas. “O tempo de tela de forma excessiva afeta o processo de aprendizagem, afeta a atenção, a concentração, fora as questões também emocionais e as questões sociais”, explica a neuropsicóloga.
Um dos problemas apontados por Rosiane Bernardo é que os próprios adultos, pais e responsáveis, estão perdidos e sem saber como fazer para evitar o excesso de uso de telas em geral. “Nós todos precisamos nos policiar quanto ao uso de telas em geral. E vejo que esse limite tem que partir de algum lugar, por parte da escola, mas principalmente dos próprios adultos, dos pais e responsáveis”, explica.
E outro ponto apontado pela pesquisa é que 43% dos pais de crianças de até 12 anos disseram que seus filhos já têm celular próprio. Dos que têm filhos de até 18 anos, 50% já têm o aparelho. E esta é uma geração que praticamente nasceu com um celular na mão e com acesso à internet, muitas vezes utilizados como uma espécie de babá eletrônica, uma forma de manter as crianças mais quietas.
No entanto, a neuropsicóloga ressalta que esta atitude de deixar a criança à mercê do celular, da internet desde muito pequena, além de causar problemas cognitivos e de aprendizagem, acaba se transformando em um vício prejudicial. “Quando olhamos para crianças e adolescentes com TDH ou transtorno de ansiedade, ou qualquer outro de humor, cada vez mais comum, é mais desastroso ainda porque hoje aumentou o número de crianças com crises e transtornos”, enfatiza.
O Datafolha entrevistou presencialmente 2.029 pessoas com 16 anos ou mais, em 113 municípios do país, nos dias 7 e 8 de outubro. O nível de confiança é de 95% e a margem de erro é de dois pontos percentuais. No recorte dos pais com filhos até 12 ou 18 anos, a margem de erro é de quatro pontos.
O que diz o MEC
A preocupação chegou aos governos municipais, estaduais e federal. O Ministério da Educação já prepara um projeto de lei que proíbe o uso de telefones celulares dentro de salas de aulas de escolas públicas e privadas do país. A proposta deve ser apresentada ao Congresso Nacional ainda em outubro.
O Ministro da Educação, Camilo Santana, explicou que a intenção é garantir maior segurança jurídica a estados e municípios que já possuem leis que proíbem o uso dos aparelhos em salas de aulas. Um exemplo é o Ceará onde existe uma lei neste sentido desde 2008. Segundo o MEC, esta é uma questão que vem sendo discutida e pesquisada em diversos países, que já concluíram por meio de estudos os prejuízos causados na aprendizagem a curto e longo prazo. “É super válida essa decisão e a gente espera que isso aconteça. Mas essas iniciativas devem começar dentro das famílias”, ressalta Rosiane Bernardo.